terça-feira, 16 de julho de 2013

Respeito: 'morreu na contramão atrapalhando o tráfego'

Imagem retirada emhttp://bit.ly/1aMlKr9
Sábado de manhã com sol e logo cedo o carroceiro fazia sua peregrinação diária.

Resolvi abordá-lo.

Simpático e educado, ele aceitou meu convite e veio lentamente empurrando seu instrumento de trabalho para recolher papelão, utensílios, e madeira em minha casa - há duas quadras de distância.

Segui pela calçada e o carroceiro pelo canto da via (na contramão) quando se aproximou uma super máquina, com seu motor possante, vidros escuros, desfilando seu ar suntuoso.

Na calmaria do fim de semana, o automóvel tinha asfalto livre a perder de vista, e mesmo com espaço de sobra para fazer a curva, o motorista fez questão de realizar uma manobra fechada, raspando no carroceiro.

Logo à frente, o carro parou.

Dentro do aparelho móvel de quatro rodas, confortabilíssimo, eis que a porta se abre e saí um homem. Sim, mesmo com a visão prejudicada pelo sono da primeira hora do dia, percebi que era um ‘homo sapiens’ e não um robô.

Revoltado, o motorista desceu do carro fazendo gestos ofensivos, gritando com o carroceiro, que por sua vez, permaneceu estático, sem reação. Ao verificar que estava “tudo bem” com sua máquina possante, o homem de aproximadamente 35 anos, careca, de óculos escuros bateu a porta do carro e foi embora. Certamente, se pudesse, mandaria prender aquele “vagabundo” (proferiu isso em voz alta), para que não existisse mais o risco de tocar em sua máquina - que só falta voar.

É o típico motorista que vive em sua ilha de aconchego rodeado de “tubarões”. O cara odeia táxis, ônibus, motociclistas, ciclistas, e não nega seu desejo de possuir uma via exclusiva para automóveis, pagando menos IPVA, é claro. Faixa de ônibus na Marginal Pinheiros ou outras via, “aff”, é coisa do “PT + CET”. Carroceiro então, nem deveria existir no trânsito, afinal, “esses caras não querem trabalhar”, e só atrapalham o tráfego de quem vai ao trabalho.  

O carroceiro, por sua vez, chama-se Anderson, tem 31 anos, é pai de dois filhos, e com os dois pés fincados no chão morno, lamentou o ocorrido. “É assim sempre. Ninguém me respeita”.  A frase foi um soco no estômago. O respeito 'morreu na contramão atrapalhando o tráfego'. 

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Ato pela democratização da mídia em imagens

Um ato em no entorno da Rede Globo, em São Paulo, no último dia (12) reuniu 800 pessoas que pediam a abertura de um debate pela democratização da mídia e restrição as concessões a políticos. Veja algumas imagens da manifestação e leia o texto (aqui)

Manifestantes no início da avenida Chucri Zaidan. Ao fundo, a ponte
Octávio Frias Oliveira (publisher da Folha morto em 2007) - (Ponte Estaiada).
Manifestante picha área de acesso à Globo na entrada lateral da emissora.
Manifestante deixa seu recado.
Manifestantes levaram bonecos dos senadores José Sarney (PMDB-AP)
e Fernando Collor de Mello (PTB-AL). Os parlamentares são donos de
retransmissoras da TV Globo no Maranhão e Alagoas, respectivamente.
Os manifestantes deram a volta na rede Globo e fizeram um ato
simbólico na Marginal Pinheiros queimando os bonecos dos
senadores. No chão, o boneco de Collor, que teria o mesmo
destino do boneco que representava Sarney. 
Boneco representando senador queima na Marginal Pinheiros.

Antes de deixar a Marginal Pinheiros, os manifestantes
estenderam uma grande faixa pela democratização da
mídia.
Anarquistas do "Black Block" desgarraram-se do movimento,  seguiram junto com
50 pessoas na Marginal Pinheiros, e "re-batizaram" a ponte Octavio Frias de
Oliveira. 
Na noite de 12 de julho de 2013, a ponte Octávio Frias de Oliveira foi "re-batizada" com o nome do
Jornalista Vladimir Herzog, morto pela ditadura militar em 1975. 

Entre os diversos cartazes dos manifestantes surgiram mais perguntas do que afirmações. 


Manifestante foi único que lembrou das recentes denúncias contra a Rede Globo feitas pelo
Blog "O Cafezinho". 

Dentro dos quatro muros: manifestantes projetam mensagem no
muro da TV Globo, em São Paulo.
Leia mais sobre o primeiro ato pela democratização da mídia (aqui)

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Manifestação em frente à Globo pede debate sobre democratização da mídia

Manifestantes colocam fogo em
'bonecos' de Collor e Sarney
        As centrais sindicais saíram às ruas em todos os Estados do país, ontem (11) protestando por melhorias nos direitos trabalhistas. Segundo estimativas, o “Dia Nacional de Lutas” registrou 90 mil pessoas em 18 capitais. E o grito das ruas ampliou sua voz e voltou-se contra a grande imprensa. Num ato de menor porte, cerca de 800 pessoas segundo a Polícia Militar reivindicaram a abertura de um debate sobre a democratização da mídia (fim do monopólio midiático), rechaçando também a concessão de rádio e televisão a políticos.

Holograma projetado na Rede Globo
por manifestantes
O alvo da insatisfação foi a Rede Globo e a criatividade dos participantes era demonstrada em cartazes irônicos, bem humorados, que questionavam as recentes denúncias sobre irregularidade com a Receita Federal, além de xingamentos jogados ao vento, desnecessários. A sátira com o tema do carnaval “Globeleza”, também chamou atenção e foi cantada em coro. “Lá vou eu, lá vou eu, hoje a luta é na avenida. Vou derrubar a Globo, feliz eu to de bem com a vida lá vou eu”. Outros ecoavam: “O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”. Um holograma projetado na parede externa da emissora foi outro ato comemorado por muitos. É a tecnologia utilizada como arma.    

A manifestação teve início na praça General Gentil Falcão, percorreu a frente da Rede Globo pela avenida Chucri Zaidan, deu a volta na emissora parando a pista local da Marginal Pinheiros, onde bonecos dos senadores José Sarney (PMDB-AP) e Fernando Collor (PTB-AL) foram queimados. A motivação do ato contra os parlamentares tem explicação: Collor e Sarney são donos de retransmissoras da Rede Globo em seus Estados.

Atualmente, 80 parlamentares são donos de concessões públicas de rádio e tv, apesar de isso ser vetado pela Constituição pelo artigo 54. Existem diversos projetos pela democratização e pela restrição das concessões, mas nenhum PL consegue obter sobrevida. O último foi apresentado na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC).

Briga de cachorro grande. Mexer com os interesses das sete famílias donas dos principais grupos de comunicação do país e com interesses políticos não é tarefa fácil. Porém, também, não é impossível. Que o diga a Argentina. Promulgada em 2009, a Lei de Serviços de Comunicação Audiovisual, chamada de “Ley de Médios”, rompeu a estrutura midiática por lá ao criar o Conselho Federal de Comunicação Audiovisual; o Conselho Assessor da Comunicação Audiovisual e da Infância; e a Defensoria do Público de Serviços de Comunicação Audiovisual que juntos garantem o direito de “acesso universal a conteúdos informativos de interesse relevante e de acontecimentos esportivos”. Entre os 166 artigos da lei, o artigo 45, “limita a quantidade de concessões a cada empresa atuando para horizontalizar e tornar mais plural e competitivo o espaço de mídia veiculado em concessões públicas” Ou seja, de propriedade da sociedade e não de empresas privadas.

Manifestantes "re-batizam" ponte
Octavio Frias Oliveira. 
No decorrer da manifestação, ao sair da Marginal Pinheiros em direção à Berrini, um grupo isolado de manifestantes vestidos de preto que escondiam o rosto, “re-batizaram” a ponte Otávio Frias de Oliveira (publisher da Folha morto em 2007) intitulando-a de “Jornalista Vladimir Herzog” (assassinado pela ditadura militar em 1975). O fato foi comemorado por cerca de 50 pessoas.

Os outros manifestantes já estavam na Avenida Luiz Carlos Berrini, retornando a praça onde o protesto teve início duas horas antes. Neste momento encontrei com o jornalista Altamiro Borges, presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, autor do livro “A ditadura da Mídia”.

 Na conversa com Miro ele me relatou que considera a legislação argentina na área de comunicação muito progressista e afirmou que a “Ley de Médios” pode servir como um modelo para iniciar-se uma discussão profunda no Brasil. “A Ley de Médios é uma legislação muito avançada, no sentido de quebrar o monopólio midiático, estimular a pluralidade, estimular a diversidade. Temos que fazer todo um debate em nosso país de como construir uma mídia mais democrática, e a lei serve de referência, ajuda”, explicou.

No entanto, toda vez que surgem conversas sobre democratização e restrição, os assuntos espinhosos que causam calafrios nos barões da mídia vão parar embaixo do tapete. “É censura”, esbravejam.  “Deve ser o medo de perder o monopólio”, acredita Miro que enxerga a questão de forma contrária. “A Lei da Argentina garante liberdade de expressão. Ela fala o seguinte, só para dar um exemplo: o espectro da radiodifusão que é concessão pública estava concentrado em duas famílias. A Lei da argentina diz que 1/3 do espectro vai ser para movimentos comunitários, para sindicatos, para entidades de bairros. Isso é o contrário de censura. Isso é garantir liberdade de expressão. Quem censura hoje são os grandes monopólios. Eles censuram a sociedade e censuram os próprios jornalistas”, lamentou.

No final do papo com Miro, já próximo ao desfecho da manifestação, ele destacou a importância do crescimento no entendimento do tema e na reunião das pessoas pela abertura de um debate para o reforço democrático que passa pela comunicação. “Eu acho que esse movimento marca uma reviravolta. Esse tema de democratização da mídia no Brasil, nesse sentido de entender como ela é concentrada, como ela pode gerar um processo de manipulação e deformação de comportamentos. Esse tema é um tema debatido na academia, por alguns sindicatos. Essa manifestação mostra o seguinte: tem muito mais gente querendo entender desse tema. Tem muito mais gente percebendo que discutir mídia é discutir democracia no país, então eu acho essa manifestação histórica”, finalizou.

Ás 21h da noite, os manifestantes concentraram-se novamente na praça, tocaram instrumentos de percussão e comemoraram o fato de à Globo ter noticiado a manifestação. “Não somos invisíveis, a Globo passou nosso movimento ao vivo”, disse um rapaz ao megafone. Com o início da dispersão do pessoal, encontrei com a porta voz do Movimento Passe Livre (MPL), Mayara Vivian, que reafirmou o que vem dizendo. A pauta do MPL é pelo direito à cidade e pelo transporte. No entanto, a estudante de geografia enfatizou que apóia a luta do movimento. “Aqui tem o pessoal do teatro, tem o pessoal de mídia, o pessoal de rádio, que tem suas pautas também e vão aos nossos atos, mas eles que estão tocando essa luta. Essa luta é deles. A gente sempre se conversa, estamos solidários, assim como a gente sempre conversa com o MST, com o MTST, com o sindicato dos metroviários. Eu não vou no trabalho de base dos metroviários, mas a luta deles a gente apóia”.

A conversa entre esses movimentos ainda deve agitar muito o Brasil. Quem está no inverno, lembre-se: estes jovens já estão na primavera.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Convida a gente pra dançar. Mas chega de lambada.

Imagem do Jornal do Dia em
http://bit.ly/174Nu4B
Atordoado pelos acontecimentos de junho de 2013 e pelo bombardeamento da grande imprensa, da mídia independente, e das redes sociais, é difícil escrever sobre os últimos 40 dias quando ninguém sabe ao certo qual o ritmo da dança. O período de contestação, no entanto, permanece ativo, e tende a ser explicado por reflexões, estudos aprofundados, livros que certamente vão registrar este momento da história.

A grande vitória do Movimento Passe Livre, verdadeira conquista para os paulistanos, deflagrou uma mala cheia de insatisfações em todo o país. Todos têm a sua. Não se trata mais de R$0,20, e, sim, de demonstrar todo o descontentamento sobre diversos temas, contra algumas instituições públicas e até privadas.

A dissonância atinge a polícia, os políticos em geral e respinga na grande imprensa. De acordo com pesquisa Ibope divulgada pela ONG Transparência Internacional, 81% dos brasileiros consideram os partidos corruptos ou muito corruptos. Segundo o mesmo levantamento, 56% dos cidadãos acreditam que o governo não consegue combater a corrupção. Os números revelaram que os partidos políticos, o Congresso Nacional e a polícia são considerados as instituições mais corruptas do Brasil. A Igreja (33%) e as Forças Armadas (30%) foram às instituições mais bem avaliadas. 

Independente do possível conservadorismo da pesquisa, os resultados são sinais que os pilares da nossa jovem democracia começaram a ruir e necessitam de uma reforma urgente e séria. Os gritos da rua exigem a lavagem da roupa suja de uma vez só, sem amaciante, tirando o atual sistema da sua zona de conforto.

As manifestações atingiram em cheio o sono de alguns políticos - e ainda tira. Caiu batata quente no colo de todos, que ou passavam o problema adiante, ou tentavam cozinhá-lo. Para não voltar muito no tempo, desde 1988 a distância que há entre representados e representantes só aumenta e é tão grande que o grito do cidadão não ressoava. Ou era ignorado. O sistema político polarizado entre PT x PSDB levou uma chacoalhada da força que emergiu das ruas e a resposta tardou. Só apareceu no final do mês. 

Primeiro veio a presidente Dilma Rouseff (PT) que propôs discussão sobre propostas envolvendo responsabilidade social, saúde, transporte público, educação e reforma política. A Constituinte que naufragou em 24 horas, levou consigo o plebiscito que deveria consultar a opinião do povo. Mas já foi afogado pelo Congresso.

As casas legislativas, por sua vez, tentam emplacar o maior número de projetos possíveis até o recesso no dia 17 de julho. O que transforma corrupção em crime hediondo, por exemplo, foi aprovado pelo Senado e encaminhado para apreciação da Câmara. O mesmo acontece com a discussão sobre o fim do voto secreto.

É surpreendente, mas em dez dias o Congresso apreciou 19 projetos que estavam estacionados no Legislativo, empoeirados. A estratégia da “agenda positiva”, como diz os jornais, é clara: votar a maior quantidade de matérias, demonstrando produtividade na tentativa de “abafar” a voz reivindicativa. 

Até o momento avançou o fim do foro privilegiado, a destinação dos royalties do petróleo para saúde (25%) e educação (75%), e foi oficialmente arquivado a PEC 37 (que esvaziava o poder de investigação do Ministério Público) e o projeto apelidado de “cura gay” que previa tratamento psicológico para homossexuais.

Não cabe neste texto destrinchar cada tema (como o erro no clamor pelo arquivamento da PEC sem a discussão adequada), mas pensar na produtividade do Congresso e na reforma política. Com tanto trabalho nas últimas semanas o Legislativo só prova que fazia “corpo mole” perante assuntos de extrema relevância. Estava tudo bem, afinal. Para eles.

As alianças, conchavos, acordos que são naturais na política possuem contornos acentuados, perniciosos, deixando de lado a representação do sufrágio. O voto puro e simples desprovido de uma boa doação para a campanha do político é só mais um número, visto como fundamental no período eleitoral. Só.

O apoio de grandes empresas dita o tom da dança para posteriormente lobistas requebrarem nos gabinetes do Congresso. O paraíso para suplentes, lobistas, políticos de carreira tem que ter um fim e o plebiscito, a consulta ao povo seria a forma ideal para reformar o sistema político ao som de uma dança que todo mundo conhece o ritmo. Qual vai ser?  O povo quer opinar e participar da mudança. Reforma já! Chega de lambada.  


Manifestação sem partidos e a greve geral de 11 de julho

Indignados de plantão, muita calma!

O grito que ecoa das ruas, “sem partidos, sem partidos”, é porta escancarada para um processo anti democrático. Sair as ruas achincalhando bandeiras/partidos faz o jogo de grupos nacionalistas, de extrema direita que só querem desestabilizar e provocar confusão.  

Amanhã, (11) as centrais sindicais prometem parar o país. Mas não unidas em busca propósito único. A CUT deve levantar bandeira relacionada ao PT a favor do plebiscito, além de outras reivindicações, e a Força Sindical, cada vez mais ligada ao PSDB fará movimento contrário. Diversos atos de outros grupos também estão marcados para amanhã, como um contra a Rede Globo, em São Paulo. Enquanto o ritmo em Brasília é lambada, no resto do país se toca um ritmo com sentido - mas ainda fora do compasso.