Nossa
democracia está no ensino médio do ensino público paulista. Vejamos: Fernando
Henrique Cardoso (PSDB) obteve, em duas gestões, 17 requisições de impeachment.
Lula, nos dois mandatos a frente do Planalto acumulou 34 pedidos de
impedimento. Dilma, até hoje, coleciona 19 solicitações de deposição, sendo 5 requerimentos em três meses de governo. Tentamos colocar ponto final numa
administração 70 vezes desde 1994, quando se consolidou a polarização. Qualquer
crise em gestão é berreiro certo do outro lado. Terceiro turno.
O Instituto Datafolha
revelou hoje que 82% dos manifestantes que estiveram na avenida Paulista no dia 15 de março votaram em Aécio Neves (PSDB) para presidente
no primeiro turno. Mas o “Fora PT” já foi “Fora PSDB”. É só lembrar o protesto
contra FHC realizado em Brasília no ano de 1999. A organização dos eventos
marca a diferença entre os dois momentos: o primeiro foi mobilizado por um
partido político, o PT; o segundo foi arquitetado por grupos não filiados
reunidos pelas redes sociais. A motivação, entretanto, é a mesma. Tirar o
partido que está no poder para o bem do Brasil. Para melhorar a minha vida e a
sua. Dessa maneira, a democracia só vale se meu grupo político vencer.
Estamos
construindo uma cultura democrática que forma oposições rasteiras. Precisamos aprender a perder. Respeitar o
outro lado. Não é um atalho fácil tirar um governo do qual não gostemos. Quem
perdeu as eleições têm, na democracia, que se preparar para a próxima disputa enquanto faz campanha. Acompanhar, criticar, sugerir, mobilizar por uma causa. Que tal reforma política? Ou plebiscito para instituição do parlamentarismo? Com esse regime fica mais fácil destituir um presidente. Assim como o parlamento. Ora, brigar pelo que acredita é muito importante.
Mas não sejamos levianos, como já disse o poeta. Impeachment só vai para frente com embasamento
jurídico, provas. Vamos deixar o achismo, o quem sabe, de lado. A
democracia precisa passar de estágio, evoluir, solidificar uma cultura política
que estabeleça diálogo permanente por mais contraditórias que sejam as visões.
Fonte: Estadão
Fonte: Estadão