sábado, 5 de outubro de 2013

Um Eduardo incomoda muita gente. E com a Marina incomoda muito mais.

Marina Silva e Eduardo Campos
Foto: Eduardo Braga/FolhaPress
Sem êxito na criação da Rede Sustentabilidade, a ex-senadora Marina Silva decidiu ingressar no PSB, consolidando-se como terceira via para o pleito de 2014. É, sem sombra de dúvida, uma grande vitória para o presidente da sigla Eduardo Campos, que acabou com uma aliança histórica com o PT, aproximando-se e atraindo nomes da oposição em um processo de realinhamento do partido.  

A novidade não configura, no entanto, um bom cenário para Aécio Neves (PSDB) que pode ficar de fora do segundo turno, este sim, assegurado. O capital de 20 milhões de votos adquiridos em 2010 por Marina deve levar a disputa para uma segunda etapa desde que a ex-senadora seja a cabeça na chapa puro sangue. É um cenário arriscado para Campos, porém Marina deve projetar a sigla enquanto cria sua Rede. Difícil crer nessa hipótese dadas as claras e legítimas ambições de Campos. Grande parte da população não vota em partidos, mas sim em nomes. Nisso, é certo que os dois quadros devem bater de frente na eleição de 2018 e, por isso, não encaixam na mesma engrenagem por muito tempo. 

O grupo governista, por sua vez, deve estar coçando a cabeça e fritando os miolos. Marina representa grande peso nas urnas e Campos têm muita representatividade em sua base, o que pode levar o PT a perder votos importantes e fundamentais no Nordeste. O cenário em condições de igualdade dependerá muito do desempenho da economia e dos reflexos do julgamento do mensalão, o que se mostrou inócuo na vitória de Fernando Haddad (PT) em São Paulo. João Santana deve estar repensando a "antropofagia de anões", expressão que utilizou para comentar a eleição de 2014 em que crava vitória de Dilma no primeiro turno. A entrevista com o marqueteiro está disponível na Revista Época desta semana.

Com o discurso de “novas idéias e práticas políticas” Campos e Marina tem como alvo acabar com a polarização PT x PSDB. É possível. A argumentação marinista, entretanto, não cola. A Rede nascia dizendo: “somos diferentes”, com a promessa de não compactuar com a ‘mesmice’ política, de não entrar no ‘establishment’.  A realpolitk, porém, tem gosto amargo e Marina deve saber bem disso agora. Segundo Marina, sua decisão levou em conta quebrar a polarização existente no país. Com isso, conversas com o PPS de Roberto Freire já ganham corpo. A opção de Marina no fechamento das portas da filiação partidária (hoje) demonstra a confiança do projeto de uma ‘nova oposição’ em confronto direto com o esgotamento do lulismo – que ainda tem muito fôlego nas urnas. Vai ser interessante. 

Rede

Ficou difícil pensar, argumentar, analisar, conversar sobre a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que barrou a Rede. Em qualquer indicação a favor do TSE, não demorava pra ser taxado de governista, reduzindo a discussão ao ponto zero. A estranheza partiu da aprovação do PROS e do ‘Solidariedade’, partidos que incharam ainda mais o quadro político: são 32 legendas ativas e mais 25 esperando o aval do Tribunal. O provável casuísmo que ajudaria a tirar Marina Silva do páreo perde força, no entanto, ao analisar o tempo que as novas siglas vêm tentando o registro. O PROS, Partido Republicano da Ordem Social é construído desde 2006. O ‘Solidariedade’, de Paulinho da Força, desde 2008. 

A Rede começou a busca de assinaturas e outras exigências a partir do final do ano de 2010. O naufrágio no TSE (6x1) da Rede  não prova que os cartórios eleitorais funcionam bem, nada disso. O sistema sem dúvida tem falhas, morosidade, e o erro de Marina e seu grupo – que agora rachou – foi não ter buscado gordura extra para queimar. Agora, com o ingresso no PSB, resta acompanhar se os sonháticos vão retornar do mundo dos sonhos e aderir a realpolitik. Com os dois pés no chão a política pode ser bem diferente.   

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